Chapéus bizarros
- Daniel S. Santos

- 13 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Estou olhando lá para fora. Pelo recorte da janela vejo pessoas confusas que vão pelas calçadas. Usam chapéus bizarros em cima de enormes cabeças. Percebo que caminham de uma maneira estúpida. Fico aqui na sala olhando da janela, pensando que jamais vou me misturar a essa turba aflita.
“E mesmo que eu quisesse aderir aos insanos não tenho aqui nenhum chapéu bizarro que eu possa colocar” pensei com um meio sorriso monalisa carregado de ironia, “e mesmo que tivesse, tão pouco tenho uma cabeça grande e disforme o bastante para usá-lo”, eu pensei.
Vou até a estante pegar um livro e perco o foco da janela agora; nenhum passante no meu raio de visão, na linha do meu olho bom grudado bem no meio da minha cabeça de perfeita simetria.
Não vejo os que estão lá fora mas as cores berrantes dos seus chapéus ainda estão gravadas no meu pensamento. Vou até o jardim na parte interna da casa e sento-me para meditar, mas, os enormes chapéus de cores vibrantes, e as imensas cabeças onde eles se equilibram perturbam o vazio que há em minha mente.
Levanto-me da minha posição de iogue e vou até a escrivaninha. Abro o caderno e tento escrever uma narrativa sobre chapéus bizarros e pessoas com cabeças enormes andando pelas calçadas. Eu estou em movimento. Olho de um ponto provisório as coisas que ocorrem em minha volta. Tenho uma percepção clara que vai aos poucos perdendo nitidez à medida que me desloco dentro da sala.
De repente me vejo andando pela calçada e equilibrando um enorme chapéu bizarro em minha cabeça.
As casas têm os muros baixos com pequenos portõezinhos que lhe dão acesso. Através da janela eu vejo lá dentro da sala alguém sem chapéu que observa aqui fora os com chapéu. Se ele fosse versado na arte psicológica saberia que isto é apenas uma questão de ponto de vista a partir do qual se olha. Entenderia que ele sem chapéu bizarro sentado lá no sofá da sala poderia facilmente portar um chapéu bizarro e caminhar pela calçada observando alguém do lado de dentro sentado no sofá da sala sem nenhum chapéu bizarro na cabeça.
É sempre alguém dentro da sala que escreve pequenas narrativas confusas e estranhas; embora, estando aqui fora usando chapéu bizarro ele não possa escrever narrativas perplexas; é sempre alguém que está dentro da sala sentado no sofá que as escreve, jamais alguém que anda na calçada; esses são simplesmente estúpidos; usam chapéus de cores aberrantes e jamais escrevem uma linha sequer.